Nos tempos da Grécia Antiga, a Odisseia de Homero já descrevia a triste sina dos marinheiros que navegavam sobre o mar Mediterrâneo. O canto da sereia atraía-os para um jogo de sedução que culminava no seu trágico naufrágio. Centenas de anos depois, são os influencers de palmo e meio quem parece dar música às marcas perdidas no oceano digital.
Estamos a falar, provavelmente, da ocupação mais apetecível dos dias de hoje: Ser influencer é tão simples como tornar o nosso hobby preferido numa profissão de sonho!
Com a proliferação do mundo digital e, em particular, das redes sociais, basta um smartphone com acesso à internet para cantarmos “let the money talk!” Mas será esta uma realidade sustentável ou pura fantasia? Uma coisa é certa: os nossos pais dir-nos-iam “vai mas é trabalhar, meu malandro!”
À primeira vista, olhamos para este cenário e tudo parece fazer sentido: Por um lado, as redes sociais já são uma parte incontornável do nosso dia-a-dia. Qualquer um de nós veste a fatiota de criador de conteúdos e et voilá! Centenas, milhares e até milhões de seguidores. O cidadão comum passou a ter a faca e o queijo na mão.
Por outro lado, as marcas têm o desafio de adaptar as suas estratégias de comunicação às tendências da era digital. A título de exemplo, 6 em cada 10 consumidores portugueses utilizam o Facebook como fonte de pesquisa para as suas decisões de consumo. Ora se aquela miúda tem milhões de seguidores, porque não dar-lhe o nosso produto para as mãos e dizer-lhe: “faz uns posts e stories no Instagram e toca a convencer a malta a comprar!”
A emergência deste fenómeno não é tão recente como se pensa. A teoria da influência social é alvo de estudo desde os anos 60 e resume-se ao facto de que o ser humano é passível de mudar as suas ideias, atitudes e comportamentos em função da intervenção do outro. Se os ditos influencers tiverem a capacidade de o fazer com eficácia nas plataformas digitais, as marcas terão todo o interesse em alocar mais recursos por esta via.
Voltemos ao ponto de partida desta conversa. Toda a gente anda a querer influenciar toda a gente e chegará o dia em que a bolha rebentará! Imaginem o que é estarmos doentes com febre e tomarmos Ben-u-ron como se não houvesse amanhã. Qual seria o resultado? O principio ativo do medicamento deixaria de fazer efeito.
Quantidade não foi, não é nem nunca será sinónimo de qualidade, contudo, algumas marcas persistem em repetir o mesmo erro do passado. Em plena era do “data-driven marketing”, as suas estratégias de comunicação digital estão a deixar-se levar por um fogo-de-vista que arrasta milhões.
“Se queres um trabalho bem feito, fá-lo tu.”
Para que uma marca atinja o estatuto de referência online, a sua proposta de valor terá de se apresentar real e relevante junto dos consumidores. Se deixarmos a galinha dos ovos de ouro nas mãos de todo e qualquer um, mais tarde ou mais cedo, ela perder-se-á por terras de ninguém. Felizmente um pouco por todo o mundo as grandes marcas começam a "abandonar" estes influenciadores e uma estratégia que não tem dados os frutos tão desejados.
Mais do que pagar para influenciar, há que cuidar para amar. Porque quem não sente não é filho de boa gente.
Tomás VP Storyteller | Blog Bluesoft